Criação com apego

A forma de vínculo entre pais e filhos está mudando. O processo de educação também. E com toda essa evolução, surgiu um novo estilo de criação de filhos: a criação com apego. E é exatamente sobre isso que o Festa na Floresta vai falar hoje, neste post.

Mas o que é a criação com apego?

Criação com apego é uma forma de educar que auxilia os pais a firmarem vínculos mais estreitos com seus filhos. Esse estreitamento ocorre a partir do momento que esses pais passam a atender, de forma efetiva, as necessidades dos pequenos. Além disso, esse estilo de educação também possibilita às crianças o desenvolvimento da empatia e compaixão pelo próximo.

Mas, embora o nome pareça fofo e despretensioso, essa prática é bem complexa. Portanto, requer dos pais maior reflexão com respeito às suas decisões ao longo dessa jornada. E como é de esperar quando o assunto é criação de filhos, é uma prática que requer também comprometimento. Afinal, tudo isso se trata de preparar as crianças para a vida, e essa tarefa é de uma responsabilidade ímpar.

Há regras?

Como dito, a criação com apego existe com o objetivo tornar mais próxima a relação entre pais e filhos. Além de uma prática saudável, ela também contribui para um ambiente mais seguro, onde a criança se desenvolve mais naturalmente.

Mas, diferente de uma lista de ‘pode e não pode’, a criação com apego é melhor compreendida se a olharmos com um olhar mais funcional. Isso significa que, embora ela tenha uma lista de princípios, não necessariamente os pais devam se cumprir todos eles rigorosamente. Ao contrário. Cada pai, de acordo com seu ambiente e, observando as necessidades da criança, escolhe quais princípios aplicar em sua rotina. Tudo vai depender da criança e, como nenhuma é igual à outra, cada uma tem uma demanda diferente da outra.

E antes de prosseguir, é importante lembrar que, a criação de vínculo não é uma questão de moda do sec. XXI. Faz parte das necessidades da criança, desde o ventre, ter acesso à essa disponibilidade por parte dos pais. Disso depende sua saúde emocional, assim como seu crescimento e desenvolvimento.

Então, como começar a criação com apego?

É na gestação que tudo começa. Aliás, a gravidez é uma das fases mais importantes nesse estilo de criação que tem sido adotado por muitos pais. E o tipo de parto escolhido, inclusive, pode influenciar diretamente na construção desse apego, assim como a forma de amamentar.

Alimentação

A alimentação do bebê também é uma ferramenta excelente para a construção de vínculos. Vínculos esses que podem ser levados por toda uma vida, tamanha a sua importância. Afinal, enquanto uma necessidade física é sanada, necessidades emocionais também são satisfeitas, através desses momentos característicos de união familiar. Além disso, a alimentação oferecida a uma bebê pode influenciar também na sua noção de segurança e proteção.

Na criação com apego, indica-se que a amamentação seja em livre demanda. Isso significa que a mãe deve alimentar o bebê sempre que ele demonstrar essa necessidade. Também é importante que esse momento seja encarado pela mãe como forma de aconchego e de dedicação exclusiva à criança.

A introdução de comida sólida só deve ocorrer quando o bebê mostrar que está preparado para isso. Esse momento não é definido pela idade da criança e sim pela sua maturidade para se alimentar dessa nova forma. Além disso, deve-se deixar a criança livre para desenvolver seu paladar de forma natural, sem imposições.

Sensibilidade

Posicionar-se de forma sensível ao bebê promove o que se chama de apego seguro. Assim, o bebê aprende sobre empatia e compaixão ao longo do seu cotidiano. Mas ser sensível ao bebê não é tão simples quanto parece. Isso ocorre, porque o estilo tradicional de criação vê essa prática como algo prejudicial, que torna a criança mimada. Então, além de estar sensível aos pequenos, é também preciso se equilibrar entre os conselhos não solicitados e as intervenções não pedidas.

Por exemplo, os bebês não conseguem se acalmar ou dormir sozinhos. E isso acontece porque seu cérebro ainda é imaturo ao nascer. Então, os pais precisarão auxiliá-lo nesse processo até que o consigam fazer sozinhos. Para que uma criança se acalme, o colo é sim uma alternativa excelente, que, além de acalmar, mostra à criança que ela tem um porto seguro. Esse contato físico é importante para os pequenos.

Deixar um bebê chorando por muito tempo pode elevar o nível de estresse cerebral, aumentando drasticamente a liberação de hormônios. Isso pode provocar problemas físicas e até emocionais. Além disso, o choro é a forma de expressão do bebê, portanto, não deve jamais ser ignorado ou repreendida.

Mas, para muitas pessoas, essa prática pode tornar as crianças mimadas, gerando um ponto de conflito entre as opiniões diversas. Por isso a importância de estar seguro na decisão de aplicar a criação com apego e na importância de criação desse vínculo. Uma vez seguro disso, vai ficar mais fácil contornar as intromissões indesejáveis ao longo dessa jornada.

Contato afetivo

O contato afetivo é responsável por estimular a produção de hormônios do crescimento, melhorando seu desenvolvimento intelectual e motor. Além disso, esse tipo de contato ajuda na regulação da temperatura corporal, assim como dos batimentos cardíacos e do sono. Pesquisas indicam que bebês que recebem maior contato afetivo desde o seu nascimento ganham peso mais rapidamente. Isso ocorre porque eles mamam melhor, o que os deixa mais calmos.

A hora da amamentação, a hora do banho, assim como períodos de massagens são ótimas oportunidades de se cultivar essa afetividade. O uso de slings também propiciam esse contato, podendo inclusive, estreitar ainda mais o relacionamento entre pai e filho(a).

Sono

A maior preocupação dos pais é quanto ao sono do bebê. A resposta mais procurada é sobre quando a criança dormirá uma noite inteira, como se não dormir a noite inteira fosse um problema.

A verdade, entretanto, é que bebês não dormem uma noite inteira por uma simples questão de sobrevivência. Eles precisam se sentir seguros, amparados, por isso é comum que eles acordem com certa frequência ao longo da noite. Tanto isso é verdade que, quando pais estão estressados, o bebê acorda ainda mais vezes, porque ele detecta uma situação de maior vulnerabilidade e precisa então, se sentir seguro, com mais frequência.

Ao longo de décadas, inúmeras técnicas foram criadas para fazer a criança dormir a noite toda. Muitas delas são utilizadas até os dias atuais. Deixar o bebê chorar até que durma, é uma delas. O que não se fala o quanto isso pode ser prejudicial para o desenvolvimento do bebê, afinal, ele pode até dormir sozinho, mas vai aprender que não pode contar com seus pais quando escurecer, tendo que se virar sozinho.

Dentro da criação com apego o sono é encarado como um período agradável e benéfico para o ser humano. Assim sendo, é saudável que pais durmam perto dos seus filhos, seja através da cama compartilhada ou no mesmo cômoda, embora em camas diferentes. Esse tipo de iniciativa contribui, inclusive, para a redução do risco de morte subida em bebês.

Aprender a observar os limites da criança também é importante. Para isso, é importante que os pais não deixem a criança chegar no seu limite de cansaço. Se a criança demonstrar os primeiros sinais de cansaço, já é hora de incentivá-la a reduzir a marcha e se preparar para a hora do sono.

Cuidado

O bebê necessita de presença, e nesse caso, a presença pode ser ilustrada como cuidado e apego. Ou seja, o bebê precisa saber que tem um cuidador a postos e bem atento, com quem tenha uma ligação real.

Mas nem sempre isso é possível, afinal, após um período, muitas mães precisam se ausentar do cuidado de seus bebês por uma questão de trabalho. Contudo, ao contrário do que se pensa, essas mães ainda podem construir laços de cuidado com seus filhos, mesmo trabalhando fora. E isso é possível através do vínculo que se cria com o bebê desde a gestação.

Nesse aspecto, o importante é respeitar a criança quanto a seus sentimentos, jamais a deixando com alguém com quem ela não possua nenhuma ligação. E, quando retornarem à sua presença, é primordial que os pais se reconectem a ela, demonstrando que embora tenham se ausentado, elas estarão sempre de volta.

Disciplina positiva

A disciplina positiva propõe uma postura mais amorosa e empática no que diz respeito à criação dos filhos. Ela não tem nada haver com o autoritarismo muito comum vivido pelas gerações passadas. Ao contrário, a disciplina oferece à criança a garantia de ser tratada com dignidade, longe de vergonha e humilhação.

Para a disciplina positiva, a disciplina física, além de muito dura, cria problemas emocionais e também comportamentais. Por isso, ela opta pelo uso de técnicas capazes de orientar as crianças, de forma gentil, quanto ao caminho que devem seguir. E o exemplo é uma delas. Através dele, as crianças saberão exatamente o que fazer, em cada situação.

Equilíbrio

Independente de quais princípios os pais escolherão aplicar na criação dos seus filhos, o equilíbrio deve ser o primeiro a ser observado. Através do equilíbrio, é mais fácil compreender emoções, oferecer suporte e priorizar os filhos de acordo com suas necessidades.

Filhos mudam, tudo muda. Por isso, mantenha-os sempre no topo daquilo que lhe é importante. Reserve tempo para eles e ofereça qualidade nesses momentos tão preciosos. Não construa uma vida cheia de sobrecarga. Delegue tarefas comuns, se preciso for. Cultive o vínculo, o amor e o respeito. E, para terminar, compartilhe suas experiências com outros pais que, assim como você, optaram pela criação com apego.

por Liliane Oliveira

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