A rotina das nossas crianças está sobrecarregada. A modernidade e o desejo de possibilitar um futuro de sucesso a esses pequenos têm atropelado o seu desenvolvimento saudável. O espaço para brincadeiras tem sido exaustivamente ocupado por atividades e compromissos dos mais diversas. Não há mais tempo disponível para que crianças sejam o que são: crianças!
Então, para contrapor essa realidade surgiu o Slow Parenting. Em tradução livre, o movimento “pais sem pressa” propõe a redução nos níveis de ansiedade e estresse no mundo infantil. Para isso ser possível, é preciso uma mudança de comportamento que deve começar dentro da família, a partir dos pais.
O movimento Slow Parenting
A ideia principal do “pais sem pressa” está em reduzir a pressão feita sobre as crianças para cumprir inúmeras obrigações. Isso significa deixar a correria de lado e repensar a agenda apertada da criança. Segundo Carl Honoré, um dos precursores do movimento Slow Parenting, as crianças precisam se desenvolver em um espaço onde há incentivo, mas sem cobranças exageradas. Ou seja, os pequenos precisam ter a oportunidade de crescer conforme sua própria demanda e fase de vida. Sem pressa, com simplicidade, tranquilidade, muita calma, paciência e sobretudo, consciência. E o mais importante: sendo crianças!
A pressão e o controle excessivo das crianças podem desencadear crises de insegurança e também problemas de auto-confiança. Afinal, a correria cotidiana e as competições sobre os avanços dos pequenos negligenciam as necessidades reais da criança. E isso é extremamente prejudicial para elas.
Mas que fique claro: não há problema algum em ter atividades extracurriculares como aulas de idiomas, esportes, robótica, etc. O problema está em ocupar todo o tempo da criança com atividades e compromissos desconsiderando que elas também precisam brincar. Segundo Jean Alice Rowcliffe, fundadora do movimento Slow Parenting, o trabalho das crianças, enquanto crianças, é brincar. E brincar, é bom lembrar, vai muito além de passar o tempo ou se divertir. Enquanto brinca, a criança aprende e se desenvolve de inúmeras e inimagináveis formas.
“Pais sem pressa”
Para aderir ao movimento é fundamental que os pais comecem a perceber os seus filhos de forma mais detalhada. Saber quais são as suas potencialidades e aptidões é importante nesse processo. Respeitar o tempo de aprendizado de cada criança também, afinal, como indivíduos, elas são únicas. Portanto, cada uma tem um tempo diferente da outra para absorver determinado conhecimento. Da mesma forma, cada uma tem um interesse diferente da outra que precisa ser levado em consideração. Logo, esqueça as comparações. Elas não são nada positivas nesse processo. Evite também o excesso de estímulos… a rotina natural da criança já possui os estímulos necessários ao seu bom desenvolvimento.
Presente não é presença!
E é importante destacar que, no movimento Slow Parenting, presente não é presença. Isso significa que os presentes devem ser muito bem administrados a fim de evitar excessos. É da presença que as crianças precisam. E por presença, entende-se estar junto à criança de modo integral, sem distrações, ainda que por um tempo limitado. É através da presença que os pais poderão identificar as reais necessidades de cada filho e assim, poder auxiliá-los em seu desenvolvimento.
Portanto, ao passar tempo com sua criança, organize-se para que este seja um tempo de qualidade. Priorize esse momento de forma que seja exclusivo do seu filho, sem interrupções, sem celular e afins… E nesse tempo, procure observá-lo… Perceba como ele reage diante de novidades, como ele se comporta diante dos desafios e das frustrações. Permita que sua criança desfrute de tempo para lidar com cada uma dessas situações, sem pressa, sem cobrança. Certamente, enquanto brincam, elas vão cair, vão se sujar, vão experimentar emoções e sensações novas, etc… Permita que esses eventos sejam palco de um aprendizado único e saudável para cada um dos pequenos.
O Festa na Floresta defende o direito das crianças a um desenvolvimento sadio e respeitoso, repleto de amor e cuidado. Por isso, acredita que, com afeto, respeito, zelo, e uma boa administração do tempo (dos adultos!) tudo pode caminhar bem, sem atropelos.
por Liliane Oliveira